segunda-feira, 6 de agosto de 2012

9 - Necessidade


Nascemos com ela.
Está‑nos no sangue
que fervilha, na querela
— há quem não se zangue? —
desta incansável busca
que tudo o resto ofusca.

«Amo‑te», queremos dizer.
«Amo‑te», queremos ouvir.
Por mais que a tentemos combater,
desta necessidade não conseguimos fugir.
Ela não nos larga,
esta vitalícia carga.

É horrível, pior que a fome,
mais dilacerante que a sede,
nem mesmo com sexo ela some.
Imobilizados, na cruel rede
dos desejos da alma,
nenhum corpo nos acalma,

exceto o eleito pelo destino
para ser nosso parceiro.
Com um vigor assassino
tentamos negar o roteiro
que o nosso sangue traçou.
O humano torna‑se robô.

Segmentamos as pessoas.
Somos muito racionais.
Listamos as coisas más e boas
para orientação no desenho dos canais
da nossa vida. Queremos arrumá‑la.
E silenciar de vez a instintiva fala.

Mas nada a detém.
A rede é mais forte.
Ao aparecer alguém
que nos indica o norte,
vem logo a paralisia
e o grito da voz que nos guia:

«Amo‑te!» É o que mais necessitamos,
fazer‑nos ouvir e ter retorno.
Bem tentam confundir‑nos com ramos
alternativos e até suborno.
Garantem‑nos milhares de prazeres
e, sobre o destino, todos os poderes.

Mas ela persiste, a necessidade.
O nosso amor tem de ser expresso.
Consiste, a verdadeira liberdade,
nesta prisão sem regresso,
na angústia dilacerante
de encontrar o nosso amante.

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