terça-feira, 8 de julho de 2014

19 – Quando nos Zangarmos


Quando nos zangarmos
vou tentar lembrar‑me
dos momentos calmos
de ternurento lume
em que cada um assume
os enlace dos nossos ramos.

A nossa união ardente
queimará da discórdia
qualquer ato demente;
exorcizará a fúria,
exterminará a incúria,
nada será indecente.

Se nos nossos julgamentos
considerarmos o outro
uma indigna fonte de tormentos,
tentaremos pôr cobro
ao maléfico sopro
dos equívocos pestilentos.

A noção de maldade
vem da base empática
de quem não foge à responsabilidade
com verborreia acrobática
ou com a nebulosa temática
dos mil tons sobre a verdade;

mas também vem da humilde
noção dos sérios limites
do nosso juízo quando decide
em tensões e crises.
Conhecemos, tu e eu, as lides
da vítima e de quem agride.

Faltar‑nos‑á a razão, algum dia,
alternadamente ou em simultâneo.
Creio que ambos temos a sabedoria
para distinguir o profundo do cutâneo;
mesmo considerando o nosso amor instantâneo,
sabemos que nele é eterna a harmonia.