terça-feira, 3 de julho de 2012

6 - Orgânica do Desgosto


Começa no peito.
Uma irrigação súbita
leva tudo a eito
e o coração grita.

Segue‑se o nó na garganta.
Um nódulo sufocante.
A alma cai e não levanta,
nada segue avante.

Um torno envolve os pulmões
sem dó nem piedade.
Rebentam alvéolos aos milhões.
Decuplica a dor que nos invade.

Libertam‑se ácidos no estômago.
É um vazio sem fome.
O vácuo instala‑se no âmago
e num torvelinho o espírito some.

Às vezes estremecem as pernas.
Vacilamos numa queda iminente.
Surgem as trevas das cavernas
do desmaio. Nada se sente.

Fugir! Escapar a todo o custo!
Hectolitros de anestesia contra a lucidez!
Mil e um instantes de susto!
Até a dor na carne tem a sua vez...

Cortes! Rasgos! Sangue!
Toda a violência apazigua.
Esmague‑se o corpo com um tanque.
Magoa menos do que a dor da alma nua.

Há, no entanto, alternativa
para serenar a taquicardia.
A beleza liberta a alma cativa
de toda e qualquer agonia.

A pulsação retoma com o esforço
da transformação do caos em harmonia.
Na natureza, na arte, na amizade ou no torso
de uma mulher que nos sorri sem a barreira fria.

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