Dizes que a nossa afinidade
não é por aí além.
Bem maior é o que nos detém.
Pura ilusão, a unidade.
Não te faz sentido o que proponho.
Vês-me embriagado num sonho.
O delírio de um homem triste,
ingénuo e tolo,
um cerebrozinho num rolo
de ilusões, a acreditar que existe
um elo entre o nosso contraste,
em vez do óbvio desastre.
Que elo é este, que reclamo,
esta afinidade que reivindico
e faz de mim um homem rico?
Da árvore da vida, um ramo
floresce sem motivo
e eu pasmo, cativo.
O pólen voa. Perfume ébrio.
Aroma da alma velada,
fugaz como a fada
de um terrível mistério
que a condenou ao invisível,
largando um rasto de mel.
Só eu distingo e saboreio.
Outros seguem a máscara
sórdida que te ampara
da dor no teu seio
e impede que vaciles,
escondendo o teu calcanhar de Aquiles.
Distingo por sermos semelhantes.
Somos apaixonados, intensos,
à mesma loucura propensos
por termos corações gigantes.
Embora o escondas no teu jogo,
partilhamos o mesmo fogo.
No teu medo, só mostras fogo de artifício,
fragmentos de chamas concentradas
a iluminar as enseadas
da catarse, o pior vício.
O meu incêndio livre é para ti um choque;
nem suportas que eu te toque!
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