Quando nos zangarmos
vou tentar lembrar‑me
dos momentos calmos
de ternurento lume
em que cada um assume
os enlace dos nossos ramos.
A nossa união ardente
queimará da discórdia
qualquer ato demente;
exorcizará a fúria,
exterminará a incúria,
nada será indecente.
Se nos nossos julgamentos
considerarmos o outro
uma indigna fonte de tormentos,
tentaremos pôr cobro
ao maléfico sopro
dos equívocos pestilentos.
A noção de maldade
vem da base empática
de quem não foge à responsabilidade
com verborreia acrobática
ou com a nebulosa temática
dos mil tons sobre a verdade;
mas também vem da humilde
noção dos sérios limites
do nosso juízo quando decide
em tensões e crises.
Conhecemos, tu e eu, as lides
da vítima e de quem agride.
Faltar‑nos‑á a razão, algum dia,
alternadamente ou em simultâneo.
Creio que ambos temos a sabedoria
para distinguir o profundo do cutâneo;
mesmo considerando o nosso amor instantâneo,
sabemos que nele é eterna a harmonia.